Vazio no Senado aumenta protagonismo de Ribeiro à frente da reforma tributária

mar 29, 2023 | Reforma Tributária

Sem negociadores no Senado, Rodrigo Pacheco tem como interlocutor um deputado

Sem negociadores no Senado, Rodrigo Pacheco tem como interlocutor um deputado

Na ausência de um senador especialista em matéria tributária em seu grupo político, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem escolhido como interlocutor o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator do grupo de trabalho (GT) que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45 na Câmara.

É a Aguinaldo que Pacheco tem feito seus apontamentos sobre o que tem mais ou menos chance de vingar no Senado, segundo interlocutores de ambos ouvidos pelo Valor. O deputado e o senador têm se encontrado semanalmente – e eventualmente mais de uma vez na semana – para conversar sobre as mudanças contidas na proposta e as condições políticas para avanço da matéria.

A princípio, a ideia era que houvesse um senador, designado por Pacheco, acompanhando diretamente os trabalhos no GT na Câmara. Mas os nomes em quem Pacheco confiava para a pauta econômica deixaram o Senado do ano passado para cá. Tasso Jereissati (PSDB-CE), José Serra (PSDB-SP) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) não disputaram a reeleição ao Senado, enquanto Roberto Rocha (PTB-MA) e Alexandre Silveira (PSD-MG) foram derrotados nas urnas – este último, amigo de Pacheco há mais de 20 anos, se tornou ministro de Minas e Energia do atual governo.

Hoje, os poucos nomes do Senado que acompanham com mais afinco a questão tributária não fazem parte da base governista, casos de Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e Laércio Oliveira (PP-SE), ou são bolsonaristas ferrenhos, como Rogério Marinho (PL-RN).

O presidente do Senado é um defensor de longa data de uma reformulação do modelo tributário brasileiro.

Em 2021, após se filiar ao PSD e seu nome passar a ser especulado como candidato à Presidência da República nas eleições de 2022, Pacheco atuou fortemente para tentar emplacar a reforma proposta pela PEC 110, que tinha como relator o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).

O texto, que Pacheco classificava como “a reforma que melhor reúne os anseios nacionais de simplificação e desburocratização tributária”, propunha um modelo de tributação dual, por meio de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) com a unificação de impostos em dois núcleos: um federal, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que funde o PIS e Cofins; e um dos entes federados, que unificava ICMS (estadual) e ISS (municipal).

A PEC 110 não teve êxito, assim como as pretensões presidenciais de Pacheco. Nos bastidores, o presidente do Senado culpou a falta de empenho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo revés.

Ele ainda insistiria na matéria até o fim de 2022, à qual pretendia deixar como legado de seu primeiro mandato à frente do Senado, mas a proposta não chegou ao plenário.

Durante todo esse período, Rodrigo Pacheco recebia com frequência Roberto Rocha e Aguinaldo Ribeiro na residência oficial do Senado para discutir a reforma tributária.

Depois da derrota de Rocha no Maranhão, Pacheco aumentou sua proximidade com Aguinaldo, que além de relator da reforma, é irmão de Daniella Ribeiro, senadora que é do mesmo partido que Pacheco, o PSD, e foi indicada para assumir a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO).

O senador também se tornou mais próximo de outro integrante do GT, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). Aguinaldo Ribeiro foi procurado pela reportagem, mas preferiu não se pronunciar.

Integrantes do GT ouvidos disseram que ainda esperam que o Senado indique um representante ou um grupo de senadores para acompanhar as discussões da reforma tributária, mas que isso não foi colocado até o momento.

Um parlamentar, sob reserva, ponderou que a não indicação por parte do Senado pode estar relacionada ao embate entre Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que vem se avolumando desde que ambos foram reeleitos.

A criação do grupo de trabalho para a reforma tributária foi uma iniciativa de Lira para acelerar a discussão em torno da PEC 45, de iniciativa da Câmara dos Deputados, em detrimento da proposta do Senado.

Mais recentemente, os presidentes das duas Casas do Congresso Nacional voltaram a ficar em lados opostos na discussão sobre a volta do rito de comissões mistas para o exame das Medidas Provisórias (MP).

via Valor Econômico